3 Exemplos sustentáveis da Alemanha e da Polônia
Viajar é uma das melhores formas de compreender o mundo e se abrir a novas ideias e experiências. Conhecer novos lugares, novas pessoas e rotinas nos faz refletir sobre a realidade do local em que vivemos e as possibilidades que o mundo nos apresenta.
O Velho Continente é um convite a experiências que remontam nossa história e nos fazem entender o mundo como se apresenta hoje, mas também é uma janela por onde podemos espiar as tecnologias e iniciativas que moldarão o nosso amanhã.
Os desafios na área de meio ambiente e sustentabilidade são enormes no mundo todo. O maior deles é aceitar o problema, admitir que ele de fato existe, para que possamos combatê-lo. Nisto, a Europa já saiu na frente.
A seguir apresentamos três experiências e iniciativas que observamos na Alemanha e na Polônia e que gostaríamos muito de ver por aqui.
1. Transporte público de qualidade
Ter a liberdade e facilidade de ir a qualquer parte da cidade ou do país de transporte público, com qualidade e eficiência. Esta foi de longe a melhor experiência!
Trem intercity na estação central de Kraków
Tanto em Berlin quanto nas cidades polonesas, como Kraków, Warszawa, Gdańsk, Poznań e tantas outras que passamos, há várias formas pelas quais você pode se deslocar fazendo uso do transporte público: ônibus, trem, metrô, tram (bondinho, aqui no Brasil também chamado de VLT), com a vantagem de todo o sistema estar interligado, o mesmo bilhete é válido para qualquer um deles.
Trams na cidade velha de Kraków e em Wrocław
Em toda a viagem, em nenhum momento sentimos a necessidade de alugar um carro. Nós cruzamos toda a Polônia, de norte a sul, de trem. Rápido, pontual e eficiente. Você pode argumentar que em países territorialmente pequenos como Polônia e Alemanha é fácil implantar um sistema de transportes como este. Mas estes países não são muito maiores que muitos estados brasileiros. Como seria se deslocar do interior para a capital de Santa Catarina, por exemplo, de trem? Sem sobrecarregar nossas rodovias que vivem esburacadas, congestionadas e até mesmo interditadas boa parte do tempo.
Trem na estação central de Frankfurt
Você também pode se perguntar: por que o transporte público é um exemplo sustentável? O sistema de transportes é um grande emissor de gases poluentes, que afetam não apenas a qualidade do ar e a saúde do planeta, mas também a nossa saúde. Até um terço das mortes por ataque cardíaco, câncer de pulmão e doenças respiratórias se deve à poluição do ar, grande parte dela causada pelos escapamentos dos veículos. Ao optar pelo transporte público, que tem a capacidade de transportar bem mais pessoas, você deixa de emitir toneladas de CO e CO2 na atmosfera. Migrar de um sistema individual, onde cada um se desloca em seu carro, para um sistema coletivo, é também a chave para a solução dos problemas de mobilidade que afetam todos os dias as nossas cidades.
Outro fato que nos surpreendeu foi a forma como você compra, valida e utiliza os tickets de transporte. Não há cobrador. Você mesmo compra seu ticket nas máquinas automáticas espalhadas pela cidade, valida e faz uso do transporte. O sistema funciona na base do bom senso e da honestidade.
No Brasil também temos bons projetos no que se refere a transporte público, como o sistema de transporte coletivo de Curitiba, que serviu de modelo até para outras cidades. No entanto, são iniciativas locais, e a cultura de utilização do transporte é outra. Quem tem a possibilidade de se deslocar ao trabalho, à universidade ou a qualquer outro lugar da cidade de carro, não vai optar por fazer o trajeto utilizando o transporte público, mesmo que tenha que enfrentar ruas congestionadas e disputar uma vaga paga de estacionamento.
2. Sem sacolinhas nos supermercados
Seja nos supermercados, lojas ou farmácias, não há sacolinhas disponíveis gratuitamente para os clientes. Se você quiser sacola, vai ter que pagar por ela. E está longe de parecer um problema, não vimos ninguém reclamando por isso. Muito pelo contrário, as pessoas vão preparadas com suas ecobags, bolsas e mochilas para carregar suas compras para casa.
Se você optar pela compra da sacola no estabelecimento, esta já vem com um código de barras que é passado no caixa junto com os seus produtos. A sacola é mais grossa que aquelas que encontramos por aqui livremente distribuídas nos supermercados, propositalmente resistente para que não rasgue e possa ser reutilizada outras vezes.
No Brasil parece que estamos longe de uma lei ou cultura neste sentido, ainda há pouquíssimos locais e estabelecimentos que não oferecem as sacolinhas de graça ou que fazem uso de embalagens mais sustentáveis, feitas de papel reciclado, por exemplo. Na vanguarda está o Estado do Rio de Janeiro onde desde junho de 2019 está em vigor uma lei que restringe a oferta de sacolas plásticas nos supermercados. Apenas nos seis primeiros meses, estima-se que 1 bilhão de sacolas plásticas saíram de circulação em todo o Rio. Enquanto leis como essa não existem no seu município, você pode fazer sua parte levando sua própria sacola aos supermercados, recusando aquelas sacolas minúsculas da farmácia, exigindo embalagens mais resistentes ou sustentáveis das lojas que frequenta. Faça a diferença! Não espere que uma lei seja promulgada para que você se sinta obrigada a fazer o que é certo.
3. Logística reversa de garrafas
Esta foi a experiência mais aguardada! Já imaginou você poder trocar as garrafas de água, refrigerante ou cerveja por desconto na sua compra?
Na Alemanha, é possível. Basta você levar suas garrafas pet e de vidro até o supermercado mais próximo e devolvê-las no caixa automático chamado Pfandautomat (máquina de Pfand) ou Leergut-Rücknahme (retorno de objetos vazios). A máquina tem um leitor de código de barras e vai registrando os valores do seu saldo, ao fim você recebe um voucher para utilizar nas suas compras ou ainda pode optar por receber a quantia em dinheiro.
As garrafas que podem ser retornadas tem um símbolo na embalagem, que também indica o valor que é retornado. Para se ter uma ideia, compramos uma garrafa de água de 1,5 litros por 19 centavos de euro, ao retornar a embalagem recebemos 25 centavos de volta.
Símbolo de Pfand no rótulo da garrafa de água, uma Pfandautomat e o recibo emitido pela máquina com o valor retornado de $ 0,50 (valor do retorno de duas garrafas PET)
O sistema chamado Pfand funciona da seguinte maneira: ao comprar uma garrafa de refrigerante, por exemplo, você paga X pelo valor do líquido mais Y pelo valor da garrafa, portanto, você está pagando o valor total de X + Y. Ao beber o refrigerante e retornar a garrafa na máquina você recebe o valor Y de volta. Vamos supor que a bebida custa $1 no supermercado, neste valor, $0,75 corresponde ao refrigerante e $0,25 corresponde à embalagem; ao retornar a garrafa vazia você recebe os $0,25 de volta.
É como se você tivesse pago apenas pelo líquido que vem dentro da garrafa. O recipiente é apenas “emprestado" ao consumidor mediante o pagamento de um depósito de garantia que pode ser recuperado depois. Além de permitir um retorno financeiro, a iniciativa incentiva o descarte correto das embalagens que são destinadas ao processo de reciclagem.
Estas são algumas das experiências que tivemos na Alemanha e na Polônia e que gostaríamos de ver aqui. Assim como no Brasil, há deficiências nestes países no que se refere ao meio ambiente, principalmente na Polônia, país que tem sua matriz energética essencialmente baseada no uso do carvão. Ainda há muito a se fazer.
A globalização nos permite pegar o que vem sendo feito de melhor em cada parte do mundo e multiplicar em outros lugares. Isso é particularmente interessante no que se refere ao meio ambiente e a sustentabilidade de todo o sistema econômico e social. Estamos todos conectados em um mesmo planeta, uma mesma casa comum, e é necessário o esforço de cada um para que todo o sistema funcione.
