Inteligência Ecológica
- Jéssica Michalak Besen
- 21 de ago. de 2018
- 3 min de leitura
Atualizado: 27 de set. de 2024
Ao longo de toda a evolução do homem e da sociedade, desenvolvemos diversas formas de adaptação ao meio em busca da sobrevivência da espécie. Nosso cérebro foi moldado de modo a identificar prontamente diversas ameaças, tais como objetos lançados contra nós, expressões faciais estranhas, animais em posição de ataque e diversos outros perigos presentes no ambiente que nos cerca, o que nos ajudou a sobreviver até os dias atuais.
Hoje as ameaças são outras. Poluição do ar, contaminação dos alimentos, da água e do solo, extinção de espécies, aquecimento global... A questão é que nada em nosso passado evolutivo moldou nosso cérebro para detectar tais ameaças que se mostram menos palpáveis. Somos capazes de identificar a expressão ameaçadora de um estranho - e de começar imediatamente a andar na direção oposta, mas no que diz respeito às mudanças climáticas, não temos qualquer percepção. Nosso cérebro é excelente em lidar com as ameaças no momento, mas não consegue lidar com aquelas que vemos se aproximando em um futuro indefinido.
Na época em que fugíamos dos predadores, o ser humano vivia no máximo 30 anos. O sucesso do ponto de vista da evolução significava viver o suficiente para ter filhos que também vivessem o suficiente para ter seus próprios filhos, possibilitando a continuidade da espécie. Hoje vivemos tempo suficiente para morrer de câncer, doença que pode levar mais de 30 anos para se desenvolver.
Inventamos os processos industriais e adquirimos hábitos de vida que, cumulativamente, podem causar aos poucos a degradação do conjunto limitado de condições que nutrem a vida humana na Terra. No entanto, as mudanças que apontam uma maior incidência de doenças como o câncer ou a inevitável marcha para um planeta cada vez mais quente, ficam abaixo do limite de nossa percepção sensorial. Nosso sistema de percepção não detecta os sinais de perigo quando a ameaça ocorre na forma de elevações graduais na temperatura do planeta ou de minúsculas substâncias químicas que se acumulam em nosso corpo ao longo do tempo. Nosso cérebro não dispõe de um radar interno para nos avisar da aproximação desses riscos que se mostram invisíveis na maior parte do tempo.
Precisamos adquirir uma nova sensibilidade a essa série desconhecida de ameaças, além daquelas que o radar de nosso sistema nervoso detecta, e aprender o que fazer a respeito delas. É aí que entra a Inteligência Ecológica.

A Inteligência Ecológica nos permite aplicar o que aprendemos a cerca dos efeitos da atividade humana sobre os ecossistemas no sentido de causar menos danos e viver de modo sustentável. Assim como a inteligência emocional e social baseiam-se em nossa capacidade de enxergar os fatos pela perspectiva do outro, ser solidário e mostrar nossa preocupação para com ele, a Inteligência Ecológica amplia essa capacidade a todos os sistemas naturais - ela mistura habilidades cognitivas com a empatia por todas as formas de vida.
Há diversas formas de desenvolvermos nossa Inteligência Ecológica. É primordial conhecermos nossos impactos e nos conscientizarmos das consequências de tudo que fazemos e compramos. O segundo passo é defender melhorias, mudar hábitos e atitudes para melhor, tanto do ponto de vista ambiental, quanto econômico e da sua saúde. Por fim, é importante compartilhar o que aprender e divulgar o conhecimento adquirido para que outras pessoas possam fazer o mesmo, em busca de uma melhor qualidade de vida para todos.
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