top of page

Minimalismo: um documentário sobre as coisas importantes

Muitos de nós temos a ilusão de que nossa vida tem que ser perfeita. Na verdade, não sei se essa ilusão é nossa ou se nos contaram que deveria ser assim. A questão é que vivemos em uma sociedade de consumo, onde a identidade de uma pessoa não é mais definida pelo que ela faz, mas pelo que ela possui. Quanto mais posses, maior o sucesso e a aceitação. Mas isso está nos trazendo felicidade?

O documentário Minimalismo nos convida a refletir sobre esse estilo de vida consumista, que preza pelos bens materiais, nos apresentando a uma nova forma de ver o mundo, onde menos é mais. O filme traz a jornada de dois americanos, Joshua e Ryan, que encontraram no minimalismo um modo de viver simples, consciente e cheio de propósito.



Gostaria de destacar três pontos importantes retratados no documentário.


O primeiro é sobre o consumismo de forma geral. Estamos cada vez mais ocupados, frustrados e estressados. Uns descontam a frustração na comida, outros, nas compras. Na presença de uma vida vazia, sem propósito, muitas pessoas acabam comprando coisas para preencher esses vazios. Teve um dia ruim?! Nada que uma ida ao shopping não resolva. É crescente o número de pessoas que fazem das compras uma válvula de escape para o estresse do dia a dia, muitas das quais acabam endividadas. O contentamento é passageiro, a dívida não.

O documentário apresenta um contraponto interessante: as famílias estão cada vez menores, enquanto as casas cada vez maiores. Salas de estar, de jantar, varandas, espaços que nunca são ocupados. Em média, usamos apenas 40% de todo o espaço da nossa casa. Para preencher o vazio deixado por esses cômodos inutilizados, mais uma vez precisamos encher com coisas: móveis, quadros, vasos, decoração.


Fato é, que nada é mais responsável do que viver no menor local possível. Significa menos impacto para o meio ambiente e para o seu bolso. É também um poupador de tempo, quanto menos objetos e menos espaço, menor a necessidade de arrumação. Além do mais, é uma forma de resgatar o propósito do lar, de ser um local de encontros, não de acumulação.


Outro ponto a ser destacado é a moda.


O estado atual na indústria da moda é conduzido pelo conceito de fast fashion, ou moda de curta duração. Quando nossas mães e avós compravam roupas, havia quatro estações no ano, ou até mesmo duas: roupas para o frio (inverno) e roupas para o calor (verão). Agora as marcas trabalham com um ciclo de 52 estações por ano, uma a cada sete dias. Querem que você se sinta fora de moda semana após semana, para que assim compre algo novo na semana seguinte.


O que a indústria da moda quer é que os consumidores comprem o máximo e o mais rápido possível. A era da moda fast fashion, na qual produzimos roupas com trabalho abusivo, para não pagarmos o custo de trabalho e o custo ecológico das peças, reduziu tanto o preço do vestuário que roupas usadas praticamente perderam o valor.


É uma indústria de uma profunda e extrema insustentabilidade. No conceito da moda, você pode (ou deve) jogar as coisas fora não apenas quando não servem mais, mas quando elas não têm mais valor social ou não estão mais na moda.


O terceiro ponto que gostaria de destacar diz respeito à publicidade infantil.


As propagandas voltadas para as crianças existem há muito tempo. O que mudou é a quantidade dessa propaganda e a forma como ela chega até as crianças. Historicamente, as indústrias que têm produtos voltados ao público infantil focavam suas propagandas nas mães, fazendo-as quererem adquirir os produtos para seus filhos. O que acontece é que as companhias decidiram tirar o foco das mães e focar diretamente nas crianças. Para se ter uma ideia, em 1983 foram gastos 100 milhões de dólares em propaganda para crianças. Em 2016 esses gastos saltaram para 17 bilhões.


Somos bombardeados diariamente com centenas de propagandas que nos dizem como nossa vida deveria ser, baseadas em acumular coisas ou sobre focar em si mesmo. Imagina esse tanto de propaganda chegando até nossos filhos. Sem contar que os produtos anunciados para as crianças são geralmente lixo: comida que faz mal e brinquedos estúpidos de gênero ou violentos. Não há uma justificativa para submeter nossas crianças a isso, nem há benefício social. É apenas mais uma estratégia de marketing para vender e lucrar mais.

 

O minimalismo apresenta um conceito de vida diferente, para contrapor o estilo atual baseado no comodismo e no consumismo. Trata-se de um ideal com base em valores. O minimalista procura tirar o máximo proveito e valor com exatamente aquilo que precisa.


Nós pensamos que precisamos consumir coisas, porque nos disseram que precisamos dessas coisas. A moda, a propaganda e a indústria do consumo estão o tempo todo tentando nos vender um conceito de vida inalcançável, baseado em coisas que precisamos ter. Mas é sabido que possuir coisas e consumir coisas não satisfaz nosso desejo de propósito. Acumular bens materiais não é capaz de preencher o vazio de vidas desprovidas de fé ou significado.


O minimalismo busca ajudar as pessoas a superarem essa compulsão por ter mais coisas, a simplificarem suas vidas, a fazerem escolhas conscientes e de valor. Quando falamos em não consumir, as pessoas pensam que estamos tentando tirar algo delas. A verdade é que se trata de buscar uma vida que de fato seja boa para nós mesmos e para as pessoas ao nosso redor. Onde não somos escravos da indústria, dos publicitários ou do governo que insistem em nos dizer o que fazer, como fazer e o que comprar. É sobre viver com propósito. A cada escolha que fazemos, a cada relacionamento, a cada real que gastamos, devemos nos perguntar: isso está me agregando valor?


O minimalismo dialoga diretamente com o essencialismo de Greg McKeown. Em seu livro, Essencialismo, A disciplinada busca por menos, somos apresentados ao conceito de menos porém melhor. Segundo Greg, quase tudo na vida é ruído, pouquíssimas coisas são essenciais. Nosso trabalho é filtrar o ruído até chegar a essência. O essencialista segue um propósito, não segue o fluxo. Uma vida essencial é uma vida que realmente importa.


Minimalistas ou essencialistas, ambos vão na contramão do padrão de consumo e status da sociedade atual. Nos apresentam a uma vida com propósito, consciente das escolhas e da importância do ser antes do ter. O minimalismo e o essencialismo apontam para as coisas realmente importantes e nos fazem lembrar que a vida simples é a chave para o contentamento e a felicidade. Saber o que realmente importa é um exercício diário, cada passo é uma libertação que nos deixa mais próximos de uma existência menos vazia e com mais significado.

 


1668000636496.jpeg

Jéssica Michalak Besen

Engenheira Ambiental e de Segurança do Trabalho

apaixonada por tudo que envolve meio ambiente e sustentabilidade

  • Facebook ícone social
  • LinkedIn ícone social

Preserve

Tem a missão de compartilhar ideais, informações e atitudes sustentáveis para um mundo mais justo, próspero e saudável, com empatia e respeito ao meio ambiente e a todos que o coabitam. 

Conheça nossos serviços de consultoria ambiental e parcerias

contato: michalak.je@gmail.com

Massaranduba, SC, Brasil

Posts em Destaque
Posts Recentes
bottom of page