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Foco: A atenção e seu papel fundamental para o sucesso no combate às mudanças climáticas

O que um livro sobre foco e sucesso teria a ver com meio ambiente e sustentabilidade? Ou com o combate às mudanças climáticas?



Passamos grande parte do nosso dia distraídos. Ao ler um texto, por exemplo, nossa mente normalmente divaga por mais de 40% do tempo. Qualquer distração nos tira o foco: uma notificação no celular, uma conversa ambiente, uma propaganda na televisão, são muitos os gatilhos que fazem nossa mente divagar.


Segundo Daniel Goleman, a atenção funciona como um músculo, se não o utilizamos, fica atrofiado; se o exercitamos, se desenvolve e fortalece. Em uma era de intermináveis distrações, Goleman argumenta que precisamos aprender a aprimorar nosso foco se quisermos prosperar no mundo complexo em que vivemos.


Isso serve tanto para nossas relações pessoais e profissionais, quanto para o ambiente em que vivemos. Todas essas distrações e a correria do dia-a-dia tem nos tirado a capacidade de perceber as mudanças que vem ocorrendo à nossa volta.


Goleman divide seu livro em sete partes, abordando desde a anatomia do foco até a sua aplicação no âmbito pessoal, profissional, social e no desenvolvimento da liderança. Destas, destaco três que podemos analisar claramente sob a perspectiva do meio ambiente e da sustentabilidade.


O primeiro paralelo interessante que o livro traz é observado na terceira parte, Lendo os outros, onde Goleman fala sobre a fronteira invisível do poder:


"A capacidade que os poderosos têm de ignorar pessoas inconvenientes (e verdades inconvenientes) ao não prestarem atenção nelas se tornou o foco de psicólogos sociais que estão encontrando relações entre o poder e as pessoas em que prestamos mais e menos atenção".


Compreensivelmente, focamos naqueles que mais valorizamos. Assim, se você é pobre, depende do bom relacionamento com amigos e familiares a quem pode pedir ajuda, o que faz com que seja particularmente atencioso com os outros e com as necessidades alheias. Os ricos, por outro lado, podem contratar ajuda, o que significa que podem se dar ao luxo de se preocupar menos com as necessidades dos outros e prestar menos atenção a eles.


Segundo o livro, poder e status são altamente relativos e nossa posição social parece determinar quanta atenção prestamos: mais vigilantes quando nos sentimos subordinados, menos quando nos sentimos superiores. A conclusão: quanto mais você se importa com alguma coisa, mais atenção presta e quanto mais atenção presta, mais você se importa.


A questão é: quem está prestando atenção aos impactos ambientais, às mudanças climáticas e todas as consequências do uso insustentável dos nossos recursos naturais? Enquanto os mais ricos podem pagar para viver em áreas desenvolvidas, com acesso ao saneamento básico, ambiente climatizado, com comida fresca e de qualidade, longe de qualquer inconveniente ambiental ou social... os mais pobres têm que conviver com a falta de água potável, vivendo em condições insalubres, à mercê de enchentes, doenças, alimentando-se de comida barata industrializada. Os povos mais pobres são os que menos contribuem para as mudanças climáticas e os que mais sofrem com ela. São os que menos utilizam recursos e os que mais são privados deles.


Como se importar com um problema que parece estar distante de mim? Essa é a pergunta que os poderosos deveriam se fazer. É preciso desacelerar, tirar o foco de si mesmo e prestar atenção no outro. Demonstrar empatia, compaixão e reconhecer que vivemos em um sistema que faz parte de um todo maior. Todos somos impactados pelas escolhas que fazemos, em especial quando se trata das mudanças climáticas que vêm afetando todas as partes do globo.


Na parte quatro do livro, O Contexto Maior, o autor trata da nossa cegueira sistêmica. Segundo Goleman, ao longo da história, para sobreviver os povos precisavam compreender os ecossistemas locais: quais plantas eram tóxicas, quais alimentam e quais curam, onde conseguir água potável, onde encontrar ervas e comida, como ler os sinais das mudanças das estações. Bandos primitivos prosperavam ou morriam dependendo da sua inteligência coletiva para ler o ecossistema local, antecipar as mudanças climáticas, identificar a hora certa de plantar e colher. Foi assim que surgiram os primeiros calendários.


Uma vez que a modernidade passou a oferecer máquinas para substituir essas tradições, os povos nativos se juntaram a todos os demais no uso dessas novas tecnologias, deixando de lado sua sabedoria local.


Mas foi essa sabedoria que salvou o povo moken do tsunami que varreu a Indonésia em 2004. Pouco antes da catástrofe, os moken perceberam que os pássaros haviam parado de cantar e os golfinhos estavam nadando mais para o alto-mar. Assim, todos entraram em seus barcos e também foram para o alto-mar, onde a crista do tsunami era mínima e passou direto por eles. Nenhum moken ficou ferido, enquanto outros povos, que se esqueceram de ouvir e interpretar os sinais da natureza, pereceram.


No livro, a antropóloga Lindsey, exploradora e membro da National Geographic Society, que trabalha pelo resgate etnográfico e pela conservação do conhecimento e das tradições indígenas em vias de desaparecer, descreve perfeitamente essa mudança de percepção e alienação das pessoas para com o ambiente e os sistemas a nossa volta:


"Eu fui ensinada pelos mais velhos que quando entramos na floresta para colher flores para fazer colares ou plantas para fazer remédios, colhemos apenas alguns botões ou folhas de cada galho. Quando terminamos, a floresta deve parecer como se nunca houvéssemos estado lá. Hoje, os meninos costumam entrar na floresta com sacos plásticos e arrancar galhos".


Para Goleman, não se trata apenas de falta de sintonia perceptiva. Se nosso circuito emocional percebe uma ameaça imediata, ele nos inundará de hormônios que nos preparam para bater ou correr. Mas isso não acontece se ficamos sabendo de perigos potenciais para anos ou séculos à frente, como é o caso do aquecimento global, da escassez de recursos ou de doenças como o câncer, causado pelo uso contínuo de cosméticos tóxicos ou pela ingestão de comida contaminada por agrotóxicos. A questão é que não notamos o que não vemos, então é algo muito mais difícil de se lidar. Como são problemas que ocorrerão em um horizonte distante, que não conseguimos ver, é difícil convencer as pessoas do que está acontecendo. Mais difícil ainda quando as pessoas quebraram essa sintonia com a natureza, ignorando os seus sinais.


Precisamos entender que os problemas ambientais são sistêmicos, portanto, as soluções também são sistêmicas. Tudo está interligado, no tempo e no espaço. O fato é que nosso cérebro não foi treinado para pensar em sistemas. Muitas soluções propostas hoje para minimizar os impactos no ambiente são meros ajustes pontuais.


Isso nos leva a uma triste constatação:


"A Era Antropocena, que começou com a Revolução Industrial, marca a primeira era geológica na qual as atividades de uma espécie - nós, humanos - degradam inexoravelmente o punhado de sistemas globais que permitem a vida sobre a Terra".


Vivemos inseridos em sistemas extremamente complexos, mas nos envolvemos com eles sem a capacidade de compreendê-los ou administrá-los por completo. E saber onde focar em um sistema faz toda a diferença. Quando nos confrontamos com um sistema imenso como a biosfera, nossa atenção precisa ser amplamente distribuída. Há um limite do que um par de olhos pode ver, no entanto, um conjunto deles é capaz de captar muito mais. Precisamos agir coletivamente e de forma sistêmica para salvar nosso planeta de tantos desastres, como as consequências do aquecimento global e a poluição plástica que está tomando conta dos nossos oceanos.


Por fim, a parte cinco do livro, Prática Inteligente, onde Goleman fala sobre o pensamento positivo.


"Em parte, o pensamento positivo reflete os circuitos cerebrais de recompensa em ação. Quando estamos felizes, o núcleo acumbente, uma região junto ao estriado ventral, no meio do cérebro, é ativado. Essa região parece vital para a motivação e para a sensação de que o que estamos fazendo é recompensador. Ricos em dopamina, esses circuitos são os condutores dos sentimentos positivos, da luta pelos objetivos e dos desejos".


Segundo Goleman, falar sobre nossos sonhos e objetivos positivos nos abrem para novas possibilidades, nos incentiva a seguir em busca do futuro desejado e nos estimula à abertura de novas ideias e planos. Por outro lado, se focamos nas nossas fraquezas, para o que deveríamos fazer para consertar algo, isso nos traz um senso defensivo de obrigação e culpa, nos fechando para o mundo.


Aqui está um grande desafio. Muitos têm uma visão catastrófica do que está acontecendo e vendem essa imagem ao mundo que já pouco se importa com mudanças climáticas, aquecimento global ou qualquer outro desequilíbrio que nosso estilo de vida vem impondo ao meio ambiente. As consequências narradas são tão terríveis, os fatos tão melancólicos, que muitos acreditam que não há nada que possam fazer ou que simplesmente ignoram a realidade, fechando-se para o mundo, porque é mais fácil e é assim que naturalmente nosso cérebro está acostumado a reagir. Precisamos mudar o foco.


Uma prática inteligente é parar de pensar o problema e focar a solução. Ao direcionarmos nossa atenção às inúmeras alternativas que vêm sendo implementadas ao redor do mundo para melhorar a nossa qualidade de vida e do ambiente à nossa volta, novas ideias e iniciativas surgem. O pensamento positivo é um chamado à ação.


Precisamos de líderes que pensem o meio ambiente de uma maneira holística, positiva e com visão de longo prazo. São competências que precisam ser desenvolvidas, praticadas e ensinadas. A evolução natural não nos preparou para enfrentar ameaças como o acréscimo de temperatura do planeta ou a invisível contaminação das águas, do ar e dos alimentos. Mas essas são habilidades que precisamos desenvolver para sobreviver e ter sucesso nesse planeta complexo em que vivemos. Para isso, Goleman nos convida a tirar a vida do automático e prestar atenção: em nós mesmos, nos outros e no mundo que compartilhamos.



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Jéssica Michalak Besen

Engenheira Ambiental e de Segurança do Trabalho

apaixonada por tudo que envolve meio ambiente e sustentabilidade

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